Análise Advocacia – Igualdade de gênero nas lideranças ainda é grande desafio das empresas

Análise Advocacia – Igualdade de gênero nas lideranças ainda é grande desafio das empresas

Por Amanda Visentini, Maria Cristina Junqueira e Renata Simon, sócias do VBSO Advogados

 

A edição 2023 da pesquisa Women in Business, realizada pela Grant Thornton, mostra que as mulheres têm ocupado cada vez mais os cargos de liderança: 28% das empresas de médio porte no mundo têm uma diretora executiva (CEO), acima dos 15% em 2019. As pressões exercidas às empresas em torno dos critérios ESG (ou ASG, na sigla em português – Ambiental, Social e Governança), estão exigindo das companhias novas estratégias para impulsionar a diversidade no ambiente de trabalho e, especialmente, na alta liderança.

De acordo com o estudo, o maior número de mulheres em cargos de gestão sugere que estratégias de planejamento de sucessão de liderança, como a implementação de fortes programas de treinamento e suporte de bem-estar e o fornecimento de mentoria e coaching, estão funcionando. Além disso, o trabalho híbrido teve um impacto importante, pois garantiu menos viés no recrutamento de mulheres para essas funções.

Mas, ainda que o número total de mulheres em cargos de gestão tenha aumentado, o ritmo desse avanço segue bastante lento. Um outro estudo, conduzido pelo Fórum Econômico Mundial em 2022 avaliou que a incerteza econômica provocada pela pandemia de Covid-19 atrasou o progresso pela equidade de gênero em todo o mundo. De acordo com a instituição, ainda serão necessários 132 anos para que as mulheres estejam em condições iguais às dos homens no trabalho e em outros ambientes sociais.

A desigual divisão de tarefas domésticas, a discriminação, abusos e assédios no ambiente de trabalho e as barreiras etárias e também étnico-raciais são alguns dos principais motivos que dificultam alcançarmos a desejada paridade de gênero. A sociedade de uma forma geral ainda não lida bem com a ambição feminina e o sucesso profissional das mulheres, especialmente daquelas que são mães. Por outro lado, o homem, quando se mostra ambicioso, apenas está cumprindo o papel social que se espera dele.

Esse comportamento, fruto de uma histórica cultura patriarcal e machista, nos ajuda a entender o motivo de tantas mulheres ficarem pelo caminho e não alcançarem o “topo da pirâmide” nos ambientes sociais e profissionais.

O machismo estrutural é uma das barreiras mais relevantes para a ascensão e efetivação dos direitos das mulheres. É importante que cada mulher saiba reconhecê-lo e entender o que são as micro agressões de gênero diárias que acontecem nas mais diversas situações. É o primeiro passo para que consigam se precaver delas.

Para uma mulher, chegar em um cargo de liderança é difícil. Mas ainda mais desafiador é se manter nele. O tempo todo, estamos sujeitas a vieses de comportamento, piadas, validação e opinião de terceiros que querem corroborar nossas ideias. Nesse caminho, para não duvidarmos das nossas próprias capacidades, precisamos ser fortes e lembrar das histórias e das lutas que nos trouxeram até essa posição.

As empresas têm uma importante responsabilidade em diminuir essas assimetrias e fomentar a paridade de gênero no trabalho. Elas precisam ir além das iniciativas de igualdade salarial e se concentrar em como apoiar as profissionais mulheres em todas as fases da sua carreira. A luta das brasileiras por equiparação salarial nos casos em que desempenham a mesma função que os homens ganhou, no dia 8 de março deste ano, um novo marco: a assinatura do Projeto de Lei que institui a Igualdade Salarial e Remuneratória entre Mulheres e Homens. O projeto foi encaminhado para votação no Congresso.

Também é essencial termos políticas de parentalidade respeitadas para equilíbrio do cuidado familiar entre gêneros, evitando que as mulheres tenham suas carreiras pausadas ou prejudicadas por não existir acolhimento com suas jornadas pessoais. Até porque, empresas que têm mais mulheres em cargos de gestão ou de tomada de decisões, dentro dos conselhos de administração, são mais rentáveis, conforme demonstra um estudo realizado pelo banco finlandês Nordea em 2017 com 11 mil empresas de todo o mundo.

Até pouco tempo atrás, a falta de referência de mulheres em cargos de liderança fazia com que nós adaptássemos nosso comportamento, assumindo condutas masculinizadas em busca de aceitação e respeito no ambiente profissional. Nós acreditamos que o importante é ser mulher e agir com nossas próprias vulnerabilidades. Não precisamos vestir essa muralha masculina, que sobe barreiras para não deixar transparecer emoções e sentimentos.

É preciso dar visibilidade, apoio e estrutura para que as mulheres consigam alcançar seus plenos resultados e desejos. As mulheres não podem ser silenciadas: elas precisam de visibilidade e apoio dentro das organizações. As redes de apoio femininas são muito importantes nesse sentido, pois existe lugar para todas as mulheres no ambiente profissional. E ter homens engajados nessa rede, os aliados, também é fundamental.

E uma última dica às mulheres que buscam ascensão profissional: escolha bem as pessoas com quem você convive e que estão ao seu redor. Mais do que a própria instituição na qual trabalha, são essas pessoas que de fato podem apoiá-la em sua carreira e em seus momentos pessoais. Faça escolhas conscientes de quem está ao seu lado nessa trajetória. Nós acreditamos que é possível chegar aonde você quiser e ser feliz durante o percurso, sem renunciar aos seus desejos e sonhos pessoais.

 

Amanda Visentini, Maria Cristina Junqueira e Renata Simon são mães e sócias do VBSO Advogados e líderes de suas respectivas áreas de atuação dentro do escritório.Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da editora, sendo de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.

 

Artigo publicado originalmente no site do Análise Advocacia. Clique aqui para acessar.