Globo Rural – Grupo quer ‘crowdfunding’ para facilitar captação de recursos no agro

Globo Rural – Grupo quer ‘crowdfunding’ para facilitar captação de recursos no agro

Financiamento coletivo serviria para tornar a captação de recursos no mercado de capitais mais direta por meio de CPRs

Um modelo de financiamento que surgiu com doações de fãs para viabilizar a turnê da banda de rock inglesa Marillion, em 1997 e ajudou a arrecadar fundos para a produção de filmes da indústria cinematográfica da Europa no início dos anos 2000. Depois, nos últimos anos, popularizou-se a ponto de ser usado para apoiar campanhas presidenciais nos Estados Unidos.

Esse instrumento, o crowdfunding, ou a popular vaquinha, pode ser o novo veículo para atrair investidores para o agronegócio brasileiro, reduzir os custos de intermediação no processo de fomento financeiro ao setor e ajudar a turbinar o aporte de recursos privados na produção agropecuária nacional.

Representantes da Câmara Temática de Modernização do Crédito e Instrumentos de Gestão de Risco do Agronegócio (ModerCred) querem popularizar o crowdfunding de Cédulas de Produto Rural (CPRs) no país.

O chamado financiamento coletivo serviria para tornar a captação de recursos no mercado de capitais mais direta por meio desse título que se tornou o mais versátil do setor a partir das mudanças legislativas recentes. São quase R$ 260 bilhões em estoque de CPRs registradas até junho de 2023.

A ideia é qualificar os produtores rurais para que eles possam emitir as CPRs e registrá-las diretamente na bolsa de valores onde ficariam disponíveis para a compra por diversos investidores, sem a necessidade de “empacotar” os títulos em estruturas como Certificados de Recebíveis do Agronegócios (CRAs), que são mais complexos e caros.

A cédula deixaria de ser apenas um lastro para a captação de recursos no mercado de capitais e passaria a ser um instrumento de investimento direto.

Thiago Rocha, presidente da câmara temática, disse que o modelo pode fazer com que o setor se retroalimente, já que produtores mais capitalizados podem investir nas CPRs por já conhecerem os detalhes e os riscos da atividade. Mas a intenção é gerar liquidez no mercado e atrair também o público urbano e investidores “comuns”.

O movimento pode liberar cada vez mais espaço no orçamento público para que a verba da União seja direcionada para pequenos produtores e políticas como o seguro rural.

“Queremos vários investidores que se juntem para comprar uma CPR registrada em bolsa. A intenção é reduzir intermediação e burocracia”, disse Rocha, que também é consultor de Relações Governamentais da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).

“Produtores mais capitalizados tendem a comprar esses títulos porque já conhecem o agro, é mais fácil investir se conseguir fazer leitura em que está investindo. O agro mesmo vai se autofinanciar”, completou. A proposta foi apresentada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na semana passada.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já regulamentou as operações de crowdfunding no país na Resolução 88/2022. O instrumento é pouco utilizado pelo agronegócio, pois apenas pessoas jurídicas podem captar no mercado de capitais, o que impossibilita os produtores rurais pessoas físicas de emitir diretamente. O modelo de financiamento coletivo é voltado para micro e pequenas empresas, com faturamento de até R$ 40 milhões anuais.

O superintendente de Agronegócios da CVM, Bruno Gomes, afirmou que a opção já pode ser utilizada por pequenos e médios produtores. A medida exige que as CPRs ainda desempenhem o papel de lastro, sendo empacotadas em CRAs ou fundos, como Fiagros, mas que podem ser emitidos diretamente nas 60 plataformas online de crowdfunding registradas no órgão, com custo mais enxuto que nas securitizadoras.

Reportagem publicada no site Globo Rural, disponível neste link.